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Série “Cuiabá 20 anos” – O Acesso à Série C

publicado em 14 de dezembro de 2021

Em mais um capítulo da série “Cuiabá 20 Anos”, vamos lembrar os detalhes do primeiro acesso do Dourado no campeonato brasileiro. Saindo da Série D de 2011 e conquistando a vaga na Série C de 2012, o que representou o início da caminhada do Dourado rumo ao Brasileiro, conquistado em janeiro de 2021.

Acesso Série D

O ano de 2011 é um dos mais marcantes e importantes na história do Cuiabá. Duas temporadas depois de ser reativado, o predestinado Dourado já conquistou o acesso à Série C do Brasileiro com uma campanha irretocável e sem deixar dúvidas de que o projeto da família Dresch estava, de fato, no caminho das conquistas.

Mas antes de conquistar a tão sonhada ascensão de divisão nacional, o Dourado precisava garantir presença na Série D do Brasileiro. Para isso, somente o título do Campeonato Mato-grossense seria capaz de levar o Cuiabá à Quarta Divisão do Brasileiro.

Mais experiente na gestão do futebol, os dirigentes da família Dresch entenderam que era preciso melhorar o time, investir na estrutura e trazer atletas com mais “casca” para chegar ao objetivo.

FOTOS DA CAMPANHA DO CUIABÁ NA SÉRIE D

Time do Cuiabá em 2011

– Nossa meta sempre foi disputar os torneios nacionais. A conquista da Copa Governador em 2010 nos garantiu presença na Copa do Brasil, mas queríamos mais. A meta mesmo era o Campeonato Brasileiro. Para isso, vimos que era preciso montar um elenco forte, aumentar a folha salarial e dar mais condições ao grupo – disse o vice-presidente Cristiano Dresch.

Dito e feito. O time melhorou a estrutura como um todo e contratou jogadores de qualidade como o ídolo Fernando, o lateral Natanael e o meia Calado, além de manter os destaques do título da Copa Governador no ano anterior, como o zagueiro Reinaldo e o atacante Moreno.

– Logo que cheguei, era ainda um pouco precário. Eles tinham recém-comprado o hotel onde fica a sede do clube até hoje. Eu fiquei morando no hotel, mesmo tendo um apartamento à disposição. Queria estar perto para pode estruturar tudo, ficar perto dos atletas. Foi um período legal pois pude vivenciar totalmente o clube no dia a dia. Com o título da Copa Governador, foi o motivador para começar o Estadual diferente – disse o treinador Ary Marques.

Com rápido entrosamento, o Dourado foi tomando corpo ao longo do Mato-grossense 2011 e fechou a primeira fase em segundo lugar, com 16 pontos. Foram quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas, com 21 gols marcados e 13 sofridos.

Na segunda fase, eliminou o Rondonópolis e o União até chegar à final contra o Barra do Garças.

– Cheguei ao Cuiabá em 2011 com o elenco sendo formado, mas o encaixe foi muito bom. Eu conhecia alguns jogadores e tive uma adaptação rápida e fácil. Sempre procurei dar o meu melhor e por essa maturidade de buscar sempre o melhor, consegui deixar meu nome na história do Cuiabá. Foram títulos, artilharia, acessos, graças a Deus tudo que eu passei no Cuiabá foram coisas boas. Tudo sempre foi maravilhoso. Só agradeço ao Cuiabá pela oportunidade que tive de vestir essa camisa – disse o ídolo Fernando, maior artilheiro da história do clube com 55 gols.

Título do estadual 2011 deu base para o time da Série D

Na decisão, vitória por 3 a 1 em Barra do Garças no jogo de ida e empate por 1 a no jogo da volta. O Cuiabá teve também o artilheiro da competição: Fernando, com 12 gols. Foi também o melhor ataque, com 34 gols. Título garantido e, mais do que isso, a vaga carimbada para a Série D do Brasileiro.

– Era um grupo muito bom para trabalhar. A união e foco eram grandes. Me lembro que teve um episódio bacana. O Natanael (lateral-esquerdo) tinha um carro velho e os pneus estavam todos carecas. Nem sei como andava ainda. E eu falei que se a gente fosse campeão eu compraria quatro pneus novos para ele. Disse isso no começo do campeonato. No fim, não deu outra, ele voltou para casa com pneus novinhos. Paguei com gosto – relembrou Ary Marques.

Pré-temporada em MG, Dutrinha e time embalado

Passada a euforia da conquista, o desafio do Dourado era reforçar ainda mais o time e preparar toda a logística para a disputa da competição nacional. Afinal, o clube era estreante no torneio e tudo ainda era relativamente novo para a diretoria, liderada pelo vice-presidente Cristiano Dresch.

– Sabíamos que seria uma competição difícil, era nossa primeira disputa de Série D. E por isso a preparação teria que ser muito boa. Nosso primeiro jogo foi em Itacoatiara, interior do Amazonas, contra o Penarol. Um mês antes desse jogo eu e o preparador físico Alexandre Schmidlim embarcamos para lá para conhecer a cidade, escolher um hotel, definir a logística. Estávamos muito focados para a Série D. Me lembro que assistimos a final do Amazonense e o Penarol foi campeão. Ali começamos a traçar nossa trajetória na competição – disse Cristiano Dresch.

A logística de viagens, inclusive, era um dos desafios do clube que à época não contava com o aporte da CBF no custeio de passagens e hospedagem, como lembra o técnico Ary Marques.

– Todo jogo era uma dificuldade, pois era tudo pago pelos clubes. E por conta de custos, a gente geralmente viajava sempre de madrugada, chegávamos cansados. As voltas para Cuiabá também quase sempre eram de madrugada, às vezes eram horas esperando o voo ou conexão. Isso marcou muito, pois tínhamos que passar por cima disso para manter o foco nas vitórias – relembrou Ary.

Com a logística definida, a direção e a comissão técnica decidiram realizar uma intertemporada fora de Mato Grosso logo após o título do Estadual. Com isso, o treinador Ary Marques aproveitou a amizade que tem com o então comandante do Cruzeiro na época.

– Foi muito importante o que aconteceu entre o título do Mato-grossense e o início da Série D quando fomos para Belo Horizonte fazer a pré-temporada. O Cuca é meu amigo e estava no comando do Cruzeiro e ele nos deu a oportunidade de treinar na Toca da Raposa. Ficamos cerca de duas semanas lá. Isso fez toda a diferença, pois pudemos trabalhar bem – disse Ary Marques.

Naquele período, o Dourado realizou amistosos contra o próprio Cruzeiro, além do Boa Esporte, o que deu mais bagagem para o time entrar na Série D. Logo na estreia da competição nacional, venceu o Penarol-AM por 2 a 1, fora de casa, já dando indícios de que seria uma competição promissora.

Ary Marques, Cristiano Dresch e Cuca na pré-temporada do Cuiabá em Minas

– Foi a forma que a diretoria e jogadores que tivemos um entendimento que seria muito importante essa conquista, o primeiro acesso para o Estado e que as portas se abririam ainda mais para o Cuiabá. Clube que sempre trabalhou com seriedade e conseguimos o objetivo. A diretoria investiu bastante, fizemos a pré-temporada em MG, deram todo o suporte extra-campo, salário em dia, premiações, tudo isso foi importante e fundamental. Sabemos que a dificuldade no futebol mato-grossense é muito grande e quando se encontra uma equipe disposta a colaborar e unir forçar com jogadores, as coisas tendem a dar certo. E o Cuiabá sempre buscou isso – relatou Fernando.

Na primeira fase da Série D, o Dourado foi o líder do grupo com 16 pontos em oito jogos – cinco vitórias, um empate e duas derrotas. Em meio à fase inicial, o time reforçou ainda mais o elenco com a contratação de atletas como o zagueiro Marcelo Bolacha e o volante Renan.

– Cheguei no Cuiabá em uma quarta-feira e no dia seguinte já viajamos para enfrentar o Nacional-AM pela penúltima rodada da primeira fase. E eu já fui titular, mas o entrosamento foi fácil, o grupo era bom, ambiente bom também. A adaptação foi rápida, estava acostumado com o calor. Rapidamente eu e Reinaldo formamos uma dupla muito boa na zaga – disse o zagueiro Marcelo Bolacha.

Uma das armas do Dourado para o sucesso na Série D foi, além da qualidade do elenco, o calor de Mato Grosso, o horário das partidas e o fator Dutrinha, o tradicional estádio de Cuiabá que naquele ano era a casa do Dourado já que a Arena Pantanal ainda estava sendo construída.

– Jogos chave foram os dentro de casa que a gente jogava no Dutrinha e tinha que fazer valer o mando de campo. Lembro que os adversários iam jogar contra nós e sentiam muito calor. Quando eu era capitão, eles iam conversar com o juiz e queriam fazer o tempo técnico, mas eu dizia que não, era nossa arma. No fim do jogo eles estavam cansados e a gente inteiros – falou Bolacha.

Sampaio favorito e luto na família

Classificado para as oitavas de final, o Cuiabá enfrentou o Sampaio Corrêa-MA que até então era considerado o favorito para conquistar a vaga na fase seguinte. O primeiro jogo foi em São Luis, capital do Maranhão, e o resultado foi satisfatório apesar da derrota por 2 a 1.

– Foi um momento marcante na campanha. O Sampaio tinha um time qualificado. Eles abriram 2 a 0 ainda no primeiro tempo e estava um jogo difícil demais, mas me lembro bem que o Gatti e o Fernando foram fundamentais. Teve uma defesa do Gatti que foi importantíssima, pois ali eles abririam o 3 a 0 e aí ficaria muito difícil reverter. Pouco depois desse lance, o Fernando fez fila na zaga deles e sofreu o pênalti, que ele mesmo bateu e converteu. Com o 2 a 1 no placar, tivemos uma vantagem boa e conseguimos a vitória no Dutrinha e a vaga nas quartas de final – relembrou Cristiano.

No jogo da volta, no Dutrinha, o Cuiabá atropelou o Sampaio por 3 a 0, com dois gols de Tozin e um de Fernando.

 

– Contra o Sampaio eu me lembro bem, eles tinham um time muito forte, eram favoritos. Perdemos fora de casa, mas foi um resultado até bom. Aí preparamos bem durante a semana e no jogo da volta estava um calor forte, daqueles de Cuiabá mesmo, 42 graus, quente demais. Com 30 minutos do primeiro tempo, já abrimos 2 a 0, atropelamos eles. Não viram a cor da bola. Depois só mantemos – disse Moreno.

Classificado para as quartas de final e a uma fase do acesso, o adversário do Dourado era o Independente de Tucuruí, com o primeiro jogo disputado no Dutrinha. Embalado por ter eliminado o então favorito Sampaio Corrêa-MA, o Dourado venceu o time paraense por 2 a 0, com gols de Renan e Moreno.

Mas antes de abordamos esse duelo, é precisa lembrar com pesar a tragédia que aconteceu no mesmo dia da partida, pouco depois do Cuiabá entrar em campo. Quatro pessoas da família Dresch falecerem em um trágico acidente, entre elas Neri Dresch, irmã de Manoel e Aron, uma das fundadoras e principais entusiastas do clube.

– Foi um momento muito triste para a família. Mas tínhamos que seguir em frente. O jogo acabou às 17h e foi bem na hora do acidente. Aí ficamos sabendo só mais tarde, umas 21h. E uma semana depois tinha que viajar. Em 2010 quando meu pai desanimou, minha tia Neri me deu suporte. Então, ela estava bem envolvida. Conversava muito com ela, ela começou a acreditar e estava sempre presente – disse Cristiano.

– Foi triste demais, ela não perdia um jogo nosso. Mas eles se mantiveram forte, mesmo com essa tragédia. No outro dia, eles falaram que iriam continuar firmes e ir até o fim. E disseram que iríamos ganhar por ela, era o sonho dela ver o time subir e ser campeão. Eu sempre ia almoçar com o Manoel na Drebor e ela falava mais de futebol que eles. Sabia mais que eles. Ela perguntava tudo, era fanática. Muito legal relembrar isso – disse Ary Marques.

O sonhado e merecido acesso

Passado o luto da tragédia, o clube seguiu a semana com foco total na partida da volta contra o Independente, em Tucuruí, interior do Pará. Antes de falar mais sobre esse duelo que garantiu o Dourado na Série C do Brasileiro, vamos voltar na vitória pelo jogo de ida, no Dutrinha, nas palavras do ídolo Moreno.

– O primeiro jogo aqui no Dutrinha estava só 1 a 0 para nós, a partida estava bem difícil. Eles eram os atuais campeões estaduais, entraram fortes pelo acesso e só o 1 a 0 seria pouco para levar o jogo para lá. No intervalo, o Ary Marques me chamou e falou que o time estava cansando e que ele ia precisar de mim. Se continuasse daquele jeito, ia dar uns 10 minutos e eu ia entrar. E ele falou que precisava da minha ajuda, fazer pelo menos mais um gol para irmos com mais tranquilidade. Time deles era forte dentro de casa – relembrou Moreno.

– Aí nosso time estava oscilando na partida, a torcida começou a gritar meu nome e eu entrei e logo fiz o gol. Foi impressionante. Fiz a tabela com o Tozin, eu bati cruzado e vencemos por 2 a 0. Fomos para o Pará e conquistamos o sonhado acesso – comemorou Moreno.

Cuiabá venceu o Independente-PA por 4 a 2 e garantiu o acesso

Esse gol marcado pelo ex-atacante, inclusive, foi tão importante que até mesmo os adversários se renderam meses depois.

– Depois do acesso, quando o Cuiabá contratou dois jogadores do Independente (Wegno e Daniel Barros), eu estava na sala da diretoria para assinar minha renovação e encontrei com eles. E ambos falaram que aquele segundo gol praticamente matou a equipe deles. Tiveram que mudar a estratégia no Pará e não deu certo. Eles falaram que tinham um time que marcava muito bem e saia nos contra-ataques. E com o 2 a 0, o treinador colocou o time para frente e não estavam acostumados. E o Cuiabá foi muito bem no contra-ataque, a cada contra-ataque era um gol do Cuiabá – disse Moreno.

Com a vantagem, o Dourado embarcou para o Pará três dias antes da partida e podendo empatar para ascender à Série C do Brasileiro. Lembrando que o clube tinha apenas dois anos de ressurgimento – voltou às competições em 2009, após três anos parado.

– Quando cheguei, a gente tinha uma meta que era o acesso. Lembro que éramos bem unidos para isso. Dentro e fora de campo. O que marcou mais foi a união o que é difícil no meio do futebol. Todos brincavam, um ajudava o outro. A Série D é jogo para homem mesmo. É aquela história de tirar as crianças da sala que o bicho pega. Tem um bocado de coisas contra, campo ruim, logística de viagem. Vestiários sem condições de ter um time profissional para se trocar, fazer aquecimento. A Série D são muitos times também, e almejar algo no começo é difícil – relatou o ex-zagueiro Marcelo Bolacha.

Com a bola rolando, o Dourado abriu o placar no final da primeira etapa sempre pelos pés do ídolo Fernando, maior artilheiro da história do Dourado.

– Lembro que o time estava sempre bem focado, concentrado e confiante no acesso. A comissão técnica era muito parceira da gente. Aquele jogo tínhamos a vantagem de 2 a 0 em casa. Sabíamos da qualidade do Independente e fizemos nosso jogo. Pressionamos eles, e consegui no fim do primeiro tempo abrir o placar. No fim, vencemos por 4 a 2. Logo depois teve uma festa muito bonita, que marcou nossa história. Aquele é um jogo para se guardar na memória para sempre – disse Fernando.

Ao fim jogo, o time auriverde venceu por 4 a 2 com gols de Fernando, Marcelo Bolacha e Willian com placar agregado de 6 a 2 ao fim. Acesso garantido de forma incontestável.

– Tenho uma cena marcante em Tucuruí, estava 4 a 2 para nós e olhei no portão atrás do gol e o vice-presidente Cristiano pronto para pular no gramado, pendurado na cerca do campo. E eu falei para ele não pular, senão o árbitro poderia encher o saco. Aí acho que antes do apito final ele pulou e entrou em campo correndo, pulando, abraçando todos, um clima muito legal. Uma festa. Ali foi um sonho realizado. Foi um sonho disputar o Brasileiro e logo conquistar o acesso – afirmou Ary Marques.

– Entramos no vestiário, aquela festa do acesso, e na hora da reza eu tomei a palavra e falei: agora é o seguinte, agora vamos treinar só à tarde, só um turno e vamos só às 16h da tarde. Aí o vestiário foi ao delírio, todos rindo. Era o objetivo cumprido. O acesso já estava na mão. No fim, treinamos mais ainda pois ainda tinha a semifinal. Quero ver o Ary deixar ficar sem treinar. Ele é louco por treinos – relembrou Marcelo Bolacha.

 

No retorno para a capital de Mato Grosso, o elenco do Dourado foi recebido com muita festa no aeroporto pelos torcedores. Dali, o grupo ainda desfilou pelas ruas em um carro do Corpo de Bombeiros.

– Os clubes de Mato Grosso nunca tinham conquistado um acesso. Antes não tinha isso de Série D. E o Cuiabá foi e conquistou o acesso. Ficou marcado na história, foi o primeiro clube a conquistar o acesso. A torcida invadiu o aeroporto, ninguém esperava, estava o carro de bombeiros nos esperando, muita gente acompanhando. Foi um dia histórico, para nunca mais esquecer, com uma carreata, uma comemoração dessa, ser recebido dessa forma foi um dia inesquecível. E depois aquela festa no CT, com as famílias, shows, churrasco. Muito legal – finalizou Moreno.

Ficha Técnica
Independente-PA 2 x 4 Cuiabá
Local: Estádio Navegantão, em Tucuruí (PA)
Árbitro: Francisco Assis Almeida Filho (CE)
Cartões amarelos: Jean e Yuri (Cuiabá). Jean, Lima e Daniel (Independente)
Cartão vermelho: Rodolfo (Independente)
Gols: Fernando, aos 46’/1T, Marcelo Ramos, aos 15’/2T, Renan, aos 26’/2T e William, aos 48’ (Cuiabá). Daniel aos 2’/2T e Wegno, de pênalti, aos 40’/2T (Independente)

Cuiabá – Gatti; Marquinhos, Marcelo Ramos, Yuri (Douglas Henrique) e Natanael; César Romero, Jean (Tozin), Bojé e Fernando; Willian Kozlowiski e Edu Amparo (Renan). Técnico: Ary Marques.

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