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Série “Cuiabá 20 Anos” – A Era Drebor

publicado em 23 de novembro de 2021

Em mais um capítulo da série “Cuiabá 20 anos”, confira a história de como a empresa Drebor comprou o clube e deu início ao ressurgimento vitorioso do Dourado.

A Era Drebor
31 de maio de 2009. Com as ruas de Cuiabá tomadas pelo verde e amarelo, a capital mato-grossense era oficialmente escolhida pela FIFA como uma das 12 sedes da Copa do Mundo 2014. O momento foi de festa em Mato Grosso, sedento por receber um dos maiores eventos esportivos do mundo.

Da direita para a esquerda, os irmãos Neri, Manoel (terceiro) e Aron (quinto)

No escritório da empresa Drebor, os irmãos empresários Manoel, Aron e Neri Dresch ficam animados com a vinda do Mundial na cidade onde vivem e despertam o interesse em possuírem um clube de futebol. Uma boa tática para expandir os investimentos no estado.

Mas antes de contarmos a história da compra do Cuiabá pela família Dresch, é preciso voltar lá atrás, em 2003, ano em que a Drebor inicia a trajetória no futebol mato-grossense ao patrocinar o Cuiabá e cravar de vez o nome da empresa no cenário nacional.

Apaixonados por futebol e bem-sucedidos, os irmãos decidem investir no futebol. Com a empresa Drebor, indústria de matéria-prima para recapagem de pneus, em franca expansão, os empresários viram no futebol a chance de aumentar a exposição da marca e ajudar a fomentar o futebol local.

Início das atividades da recapadora Dresch

– Na época queríamos divulgar a marca da Drebor e o mais vantajoso para nós era o futebol. Me apresentaram o Gaúcho e tivemos a ideia de patrocinar o Cuiabá. A gente é apaixonado por futebol. Nos domingos de manhã era a nossa diversão ir ao campo ver o futebol – disse Manoel Dresch.

– Sempre gostamos de futebol, a Drebor tinha um time que jogava o campeonato do Sesi bem antes de 2003. A gente participava de campeonatos empresariais e o futebol sempre esteve muito presente nas nossas vidas – disse Cristiano Dresch, filho de Manoel e vice-presidente do Cuiabá.

A família Dresch chegou em Mato Grosso na década de 80 e montou uma pequena recapadora de pneus em Cuiabá. Cerca de 20 anos depois, já com a empresa Drebor, consolidada financeiramente, iniciaram o patrocínio ao Cuiabá Esporte Clube que naquele ano, em 2003, tinha apenas dois anos de vida.

– A empresa LG entrou no Brasil pelo São Paulo e aí me surgiu essa ideia. Hoje a Drebor é conhecida no Brasil inteiro – cravou Manoel.

– O patrocínio surgiu, pois, um amigo do Gaúcho (fundador do Cuiabá), era amigo do meu pai e apresentou os dois. Ele trouxe essa ideia de patrocínio. Foi tudo muito rápido, logo o Cuiabá já teve a Drebor como patrocinadora oficial – completou Cristiano.

Início das atividades da Drebor no Distrito Industriário

Nos dois primeiros anos de parceria, vieram logo dois títulos estaduais, além da disputa da Copa do Brasil e Série C do Brasileiro. O sucesso foi imediato. Em 2005, a parceria acabou sendo desfeita por divergências internas. Mas nada que abalasse a grande amizade entre a família Dresch e o ex-jogador Gaúcho, fundador do Cuiabá.

2009 e a compra do clube
Licenciado desde 2006, o Cuiabá estava praticamente parado até a família Dresch comprar o clube. Como já relatado, a vinda da Copa do Mundo para a capital mato-grossense foi o propulsor e o incentivo que faltavam para Manoel, Aron e Neri investirem no negócio.

– Entramos como patrocinadores em 2003, mas saímos em 2005. Uns anos depois me ofereceram para comprar o Cuiabá. A porcentagem que o Gaúcho tinha do clube nos foi cedida e após entrarmos de vez no negócio compramos o restante dos irmãos Neponuceno, que também eram donos – afirmou Manoel, que completou.

– Quando vimos que Cuiabá ia ser sede da Copa do Mundo, ficamos entusiasmados. Imagina só ter um estádio como é a Arena Pantanal à disposição da cidade e podendo ter times nas disputas nacionais. Fomos movidos pela paixão e as coisas foram acontecendo.

Manoel Dresch com Gaúcho em 2003, no primeiro título Estadual. Drebor já estava estampada no uniforme

A viúva de Gaúcho, Inês Galvão, lembrou com carinho desse período e relatou como o então dono do Cuiabá ficou satisfeito com o negócio.

– Quando o Gaúcho passou o clube para o Manoel, ele passou tranquilo e feliz pois sabia que a família amava o time e cuidaria muito bem. O Gaúcho adorava o Manoel, ele também sempre foi um cara muito bacana e decente com o Gaúcho, tenho muito boa lembrança da família deles. Sempre receberam a gente com muito carinho. O Gaúcho gostava muito deles. O Cuiabá não podia estar em melhores mãos – disse Inês.

O vice-presidente Cristiano Dresch recordou como foi a reaproximação entre a Drebor e o Cuiabá, algo que começou pouco antes de Mato Grosso ser escolhido como sede do Mundial.

O vice-presidente acompanhando o Cuiabá em Belém pela Série C de 2012

– O Cuiabá disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2009 e eles nos procuraram para ajudar com patrocínio. Me lembro que ajudamos com uma quantia e criamos essa relação com eles novamente – relatou.

Com a compra do clube finalizada, o Cuiabá passou a se preocupar em montar um time e disputar a Segunda Divisão do Campeonato Mato-grossense de 2009, que naquele ano tinha os tradicionais Mixto e Operário na disputa.

O grupo
A primeira medida da nova diretoria, e ainda com apoio de Neto Neponuceno, um dos fundadores do clube, foi manter o treinador Carlos Henrique Pedroso, o Mosca, que havia comandado o jovem time na Copa São Paulo de Futebol Júnior no início de 2009.

O Dourado apostou em um time de jogadores locais, com atletas que vinham se destacando na disputa dos estaduais como o goleiro Ernandes Pantaneiro, o zagueiro Ataliba, os volantes Jamba e Jackson, o meia Robinho e o atacante Moreno.

Atacante Moreno é o segundo maior artilheiro do Cuiabá

– Me lembro que em 2009, que foi o retorno do Cuiabá, recebi a proposta de ajudar o clube. O Willian e o Neto (Neponucemo) foram atrás de mim em Rondonópolis, pois estava no Vila Aurora. Falaram que o Cuiabá tinha um projeto ambicioso, de chegar na Série B, Série A do Brasileiro e ia montar um time forte para voltar à elite do estadual primeiramente – disse o ídolo Moreno, que completou:

– Em um primeiro momento pegou um time caseiro, mas experiente. Eu, Robinho, Ataliba, vários jogadores que estavam nos clubes para montar uma base. E junto de jovens que estavam se destacando no estado.

Primeiros passos
Além da montagem do grupo, era preciso estruturar o clube com a parte física também, como alojamento para os atletas, local de treinamento, escritório, entre outros. O começo não foi dos mais fáceis, mas o projeto consolidado foi sendo colocado em prática dia após dia.

– O time recomeçou quase sem nada de estrutura, mas já correndo atrás. Tanto que no mesmo ano o presidente Aron comprou o hotel onde o Cuiabá está até hoje. Foi tudo muito rápido e quando conquistou o acesso, comprou o hotel e começamos a Copa Mato Grosso já forte e estruturado. Assim que conquistou o acesso, começaram os investimentos – relembrou Moreno.

Bem no começo, o Dourado usou o CT do Gaúcho, no bairro Coophema, como local de treinamento em mais um fruto da eterna parceria com o ex-atacante e principal figura da história do Cuiabá.

Niltinho Goiano, em 2004. Drebor já como patrocinadora oficial

– Me lembro que usamos um pouco a Escolinha do Gaúcho também. Quando cheguei em Cuiabá nem hotel eu fiquei, fiquei na escolinha mesmo, tinha uns quartos lá na escolinha. O Cuiabá começou o trabalho naquele CT do Gaúcho, no Coophema, a gente treinava ali e fazia academia por ali mesmo no bairro. E o Aron alugava a casa para os atletas morarem naquele bairro. Na pré-temporada, a gente ia para essa casa e almoçava marmitex – completou Moreno.

Pouco depois da disputa da Segunda Divisão do Campeonato Mato-grossense, o Cuiabá comprou a sede do então hotel Sinhá Maria, no Distrito Industrial, para ser o CT do Dourado, local em que permanece até hoje.

O primeiro jogo da “Era Drebor”

Primeiro jogo com a Drebor foi no dia 18/06/2009, contra a Seleção Sub-20, no Verdão

Com o grupo montado, era hora de realizar testes antes da disputa da Segunda Divisão do Mato-grossense. E foi em grande estilo, com a partida diante da Seleção Brasileira sub-20 em amistoso, no antigo Estádio Verdão, no dia 18 de junho.

O Brasil se preparava para o Mundial Sub-20, que foi realizado no Egito. A derrota por 4 a 2 não tirou o foco na preparação para o retorno à elite estadual. Acostumado a disputar e vencer decisões, o Dourado voltou para não parar nunca mais.

– Lembro desse jogo da seleção sub-20, no Verdão. A gente estava em formação e era arriscado, com o nosso time em formação contra uma seleção. Não sabia como iríamos suportar um jogo desse, mesmo com eles sendo garotos, mas era a seleção. Mas criamos boas chances que nos deu confiança para seguir o trabalho – disse o ex-goleiro Ernandes Pantaneiro.

A ficha do jogo histórico
Cuiabá 2 x 4 Brasil Sub-20

Estádio Governador José Fragelli, o Verdão, em Cuiabá (MT)
Data: 18/06/2009 – Público: Portões abertos
Árbitro: Edilson Ramos da Mata
Gols: Maylson 20, Ciro 33, Erick Flores 40, Jackson 46 do 1º tempo (Brasil Sub-20); Wellington Junior 32 e Daniel 46 do segundo 2º tempo (Cuiabá)

Cuiabá: Ernandes Pantaneiro; Diego Banana, Thiago, Elizeu e Daniel; Marabá (Jonathan), Jamba, Gugu (Eduardo) e Leandrinho (Wellington); Jackson (Germilly) e Moreno. Técnico: Carlos Henrique Pedroso.

Brasil Sub-20: Agenor (Rafael depois Saulo); Fagner, Dalton, Rafael Tolói e Diogo; Tinga, Maylson, Erick Flores e Alex Teixeira; Allan Kardec e Ciro. Técnico: Rogério Lourenço.

Brasil sub-20 venceu por 4 a 2 o amistoso

A Segunda Divisão do Mato-grossense
A meta da diretoria era bem clara: conquistar o título da Segunda Divisão do Mato-grossense ou, ao menos, o acesso para a elite do Estadual. Reativado, o Dourado precisava manter a escrita de predestinado, mas acabou batendo na trave com o vice-campeonato. O objetivo, porém, foi alcançado.

– Recomeçamos na segunda divisão e fizemos um primeiro turno ruim com o Mosca. Aí trocamos o treinador e trouxemos o Valter Ferreira e junto dele um monte de novos jogadores. Foi um campeonato muito difícil, tinha o Mixto com muito dinheiro da AFAM, o Operário que tem tradição, então foi complicado – disse Cristiano Dresch.

– Foi muito bom fazer parte da reconstrução do time, foi montado uma equipe caseira para começar a Segundona, aí não deu muito certo, veio o Valter Ferreira e com ele uns 11 jogadores. O time melhorou e começamos a engrenar de novo – confirmou Robinho.

– Lembro que foi uma equipe muita coesa, caseira, todos lutavam bastante, começamos mal a competição e depois equilibramos, foi avançando e um jogo que marcou foi contra o Mixto, que tinha sido o campeão do primeiro turno e já estava com o acesso garantido. Vencemos eles por 2 a 1, no Dutrinha e dali foi a arrancada para ser campeão do returno – completou Ernandes Pantaneiro.

Pantaneiro foi goleiro e também preparador de goleiros do Cuiabá. Hoje é técnico do sub-15

Depois de fechar o primeiro turno em quarto lugar, com sete pontos em cinco jogos, e trocar a comissão técnica restando uma rodada para o término da primeira fase, o Dourado foi para o segundo turno disposto a mudar o panorama.

– O começo do campeonato foi difícil, eram times mais fortes que a gente. Tinha o Operário, o Mixto com um time forte. Era uma Segunda Divisão muito difícil, só tinham duas vagas e os times vieram mais preparados que nós. Começamos o campeonato mal, bem mal mesmo no início. Ganhamos do Operário logo de cara no Verdão, um clássico, mas depois, já perdemos para o Mixto, Cacerense e ficamos em uma situação com o Mixto na liderança, o Operário em segundo e nós estávamos em quarto – disse Moreno.

O clube começou o returno com derrota para o Cacerense e tudo parecia que seria perdido. Mas honrando a tradição, o Dourado foi vencendo as partidas e conquistou o título simbólico do segundo turno, a vaga na final da competição e o principal: o acesso à elite do Mato-grossense.

Para isso, venceu os últimos quatro jogos do segundo turno batendo Operário, Mixto, Tangará e Alta Floresta.

– Embalamos nesta reta final e o acesso foi garantido com a vitória sobre o Alta Floresta. Foi um momento complicado, pois precisávamos ganhar todos os jogos para não depender de ninguém. No fim, o trabalho deu certo e conquistamos o acesso – disse Neto Neponucemo.

Classificado para a final contra o Mixto, campeão do primeiro turno, era hora de tentar o primeiro título da “Era Drebor” e logo no primeiro campeonato em disputa.

Time do Cuiabá em 2012

No jogo de ida, empate em 2 a 2. Na volta, nova igualdade por 1 a 1 e a decisão foi para as penalidades máximas e com vitória do rival por 5 a 3. Apesar de não ter conquistado o título, a campanha que levou ao acesso deu confiança ao clube que recomeçava sua trajetória com mais uma conquista.

– Fui decisivo em vários jogos. Estávamos em uma situação de vencer quatro partidas seguidas para buscar o acesso. E reagimos. No segundo turno, contra o Operário, se a gente empatasse a gente estava quase fora. Aí eu marquei o gol da vitória no final. Depois ganhamos do Mixto, do Alta Floresta, Cacerense e conquistamos a classificação. Os dois primeiros iam para a final. Essa arrancada na final foi decisiva. Aí fizemos a final com o Mixto e acabamos perdendo nos pênaltis. Foi muito difícil a Segunda Divisão, mas o Cuiabá sempre teve estrela, sempre foi vitorioso. Colocamos na cabeça que tínhamos que vencer cinco partidas e conseguimos chegar na final e garantir o acesso – recordou Moreno, que fechou a competição como artilheiro.

Ainda em 2009, o Cuiabá disputou a Copa Mato Grosso e também chegou na final, mas acabou sendo derrotado para o Vila Aurora por 1 a 0, no último jogo da história do antigo Verdão. Depois daquela partida, ele foi demolido para a construção da Arena Pantanal.

– Foi complicado perder aquele título. Nossa meta era disputar a Série D no ano seguinte, que seria o primeiro ano de disputa dela. A final contra o Vila Aurora a gente contava como ganha, pois empatamos contra eles lá em Rondonópolis. Foi o último jogo oficial do Verdão, mas não ficamos com a taça. Foi difícil, mas sabíamos que o trabalho iria continuar mesmo sem o título – finalizou Cristiano.

Final do Estadual de 2012, no Dutrinha

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