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Na série “Cuiabá 20 Anos”, os dois primeiros títulos

publicado em 11 de novembro de 2021

No terceiro capítulo da série “Cuiabá 20 Anos”, vamos relembrar, com detalhes, os dois primeiros títulos Estaduais do então recém-fundado Cuiabá, logo nos dois primeiros anos de disputa no Campeonato Mato-grossense.

Predestinado para ser um grande campeão
Em meados de 2002 e com menos de um ano de fundação, o Cuiabá Esporte Clube priorizava as disputas nas categorias de base. Àquela altura, disputar somente torneios amadores não bastava mais para os fundadores, acostumados com grandes conquistas. Era preciso dar saltos maiores, avançar e fazer do clube, de fato, um grande campeão.
Com essa meta de expandir horizontes e deixar de ser um time somente estadual, Neto Nepomuceno, um dos idealizadores do Cuiabá, colocou sua pastinha embaixo do braço e se dirigiu à sede da Federação Mato-grossense de Futebol, então comandada pelo então presidente Carlos Orione, o Barão, que na época já acumulava mais de 20 anos no poder.

Festa do primeiro título do Cuiabá. Foto: João Barbalho

A missão: conseguir uma vaga na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2003, considerado o principal torneio do país na categoria. O empecilho: para disputar era necessário ser um time profissional, o que ainda não era o caso do Cuiabá.
Interessado em ver mais um time surgindo e com enorme potencial, Orione aceitou indicar o Cuiabá para a competição nacional, mas com uma condição.

– Surgiu a ideia para disputar a Copa São Paulo, mas só podia ir quem já tinha um clube profissional, e naquela época ainda não éramos um time profissional. Mas eu fui falar com o Carlos Orione e mostrei todo nosso projeto, que queríamos resgatar o futebol de Mato Grosso, com nossa estrutura que já era muito boa – relatou Nepomuceno na conversa para convencer o já falecido Orione.

– Eu falei que se ele conseguisse a vaga, a gente iria montar um time para jogar o Campeonato Mato-grossense, com essa proposta mais profissional, de levantar o futebol estadual novamente. Naquele ano, os times estavam praticamente falidos. E foi dito e feito. Ele aceitou, a gente disputou a Copa São Paulo em janeiro e pouco depois estávamos na disputa do Mato-grossense, também como convidado. Mal eles sabiam que já seríamos campeões – completou Nepomuceno.

Formação do time
Antes de montar a equipe, a diretoria tinha ciência que o primordial era trazer um comandante à altura do projeto e que, principalmente, tivesse a confiança de todos. O nome em consenso foi o de Oscar Conrado, que tinha atuado na base do Flamengo com Gaúcho e Neto Nepomuceno.

Lance de Cuiabá e Dom Bosco, em 2003, no antigo Verdão. Foto: Craques do Rádio

– Tínhamos jogado com o Oscar Conrado no Flamengo e eu ajudei a indicar. O Oscar estava em Manaus e tendo sucesso por lá. Trouxemos ele para ajudar a montar a equipe que tinha uma folha de apenas R$ 22 mil. Como comparação a do União era de R$ 200 mil – afirmou Neto.
A parceria deu mais do que certo. Oscar Conrado foi contratado e foi o comandante do bicampeonato estadual em 2003 e 2004. Ele mesmo conta como foi a chegada ao Dourado.

– Conheci o Gaúcho quando a gente tinha 15 anos, e fizemos amizade muito forte no mirim do Flamengo. Mas cada um seguiu seu caminho, tanto que eu joguei no Operário de Várzea Grande na década de 90 e o Gaúcho seguiu pelo RJ. Quando encerrei a carreira virei treinador e já tinha comandado várias equipes em Amazonas, Minas Gerais, Rondônia, até que ajudei a montar uma equipe em Amazonas, o Grêmio de Coariense, no início de 2003 – disse Conrado.
Adendo da assessoria: entre os atletas que estavam no Grêmio-AM era o zagueiro Maurício Canhão, lendário jogador que depois virou ídolo do Dourado, mas isso será tema dos próximos parágrafos.
Voltando ao convite de Oscar Conrado para comandar o Cuiabá, o treinador disse que o pedido para assumir o Dourado veio em um encontro inesperado entre ele e Gaúcho.

– Um tempo antes do convite oficial para assumir o Cuiabá, encontrei o Gaúcho lá no Paraná. Era um torneio sub-23 de seleções estaduais. Eu no comando do time de Amazonas e o Gaúcho com a equipe de Mato Grosso, que já tinha alguns jogadores do Cuiabá. Foi um reencontro muito bacana, eram muitos anos que a gente não se vinha, mas nossa amizade sempre foi muito forte – disse Conrado, que completou.
– E nesse encontro, ele falou que estava montando um time e me queria como treinador. Eu falei que seria um prazer, não tinha como falar não. Ainda mais que tinha o Neto na diretoria também, outro grande amigo. Mas aí cada um voltou para seus estados e eu dei prosseguimento à montagem do Grêmio lá em Amazonas. Era um projeto da prefeitura da cidade e deu muito certo. A gente estava na liderança, com o time encaixado, mas aí o telefone tocou – continuou Oscar Conrado.

Gaúcho e o técnico Oscar Conrado.

Do outro lado da linha, Gaúcho cumpria o que havia prometido e oficializava o convite para Oscar Conrado assumir o Cuiabá.
– Atendi o telefone e ele falou: “Oscar chegou a hora, você é o nosso treinador”. Aí falei que estava no meio do campeonato em Amazonas, mas ele insistiu que precisava de mim, que queria e precisava contar comigo: “Oscar, eu já te conheço, sei como você é, vem trabalhar conosco”.
Ciente de que o projeto era sólido e com a forte amizade criada anos antes, no mirim do Flamengo, Oscar Conrado não teve dúvidas que ser o treinador do Cuiabá era a decisão correta.

– Ainda pedi uma semana para pensar, pois estava com um projeto muito bom também. Mas pensei comigo que não poderia deixar meu amigo na mão. Aí pedi demissão, os responsáveis não gostaram muito, mas tentei monitorar de longe, indiquei um treinador para me substituir – finalizou.
– Tínhamos jogado com o Oscar Conrado no Flamengo e eu ajudei a indicar. O Oscar estava em Manaus e tendo sucesso por lá. Trouxemos ele para ajudar a montar a equipe que tinha uma folha de apenas R$ 22 mil. Como comparação a do União era de R$ 200 mil – afirmou Neto.
Com o treinador definido, era hora de montar o grupo para disputar o Campeonato Mato-grossense de 2003. Além de manter jogadores que disputaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior, o Dourado foi ao mercado para buscar atletas acostumados com o futebol local. E a estratégia deu certo
A montagem do grupo para o Mato-grossense 2003 foi baseada nos contatos que o Gaúcho, Neto e Oscar Conrado tinham no mundo da bola, ainda mais por Gaúcho ter acumulado passagens por grandes clubes do país como Flamengo, Palmeiras e Grêmio. A rede de cartolas era extensa facilitada ainda mais por ser um projeto de pessoas com moral no mundo da bola.

Gaúcho e Neto Nepomuceno, em 2003.

– O Gaúcho sempre foi um cara muito positivo e determinado. Ele sempre conseguia o que queria. A forma com que ele lidava, a positividade, tinha uma harmonia grande. Na época eles contrataram o técnico Oscar Conrado, um profissional muito bom. Eles tinham uma combinação muito forte, um escutava o outro. Não tinha ego, era tudo uma união. O Gaúcho foi jogador e ele sabia conversar com os meninos. Ele sabia lidar com os meninos, respeitava muito eles. Havia essa harmonia, não tinha brigas de egos dentro do clube – disse Inês Galvão, viúva de Gaúcho e que acompanhou de perto todo o processo inicial do Dourado.

Oscar conta ainda que faltando poucos dias para o início do Mato-grossense e ainda tinham jogadores chegando para reforçar o grupo.
– Faltavam 12 dias para começar o campeonato e ainda não tínhamos o grupo fechado, foi uma correia, uma loucura. Aí perdemos para o Sinop na estreia, mas senti que montamos uma semente positiva ali. Conversava com o Gaúcho, pedia paciência e falava que as coisas iam fluir. Gaúcho queria resultado imediato, era o jeito dele. Aí veio o segundo jogo, o terceiro jogo e vencemos a primeira, aí as coisas acontecerem – disse Conrado.

União, família, profissionalismo
Uma das bandeiras do Cuiabá sempre foi o profissionalismo, salário em dia e estrutura para os atletas trabalharem. E foi desta forma que o clube alcançou o sucesso repentino, que talvez nem os próprios fundadores esperavam.
– Nossos salários eram baixos, me lembro que ganhávamos em média R$ 600 cada um. Mas o pagamento era em dia, o que era difícil de acontecer naquela época em Mato Grosso. A estrutura era boa, a gente concentrava na escolinha. As premiações também sempre eram pagas. Isso tudo contou para o sucesso – disse o ex-meia Robinho, camisa 10 do time e um dos principais destaques do início do Dourado.

Santos erguendo o primeiro troféu da história do Cuiabá

– O futebol de Mato Grosso estava morto. Com a nossa chegada, todos voltaram. O Cuiabá foi o grande responsável em resgatar o futebol estadual novamente. A gente morava junto, almoçava e jantava juntos. Não tinha jogador com vício. O pagamento era em dia, então vimos que essa estrutura poderia dar resultado. E não deu outra – completou Neto Nepomuceno.
– O grupo não tinha vaidade. O massagista era igual a gente, roupeiro era igual a gente. O que fosse fazer, eles estavam com a gente. As tias da cozinha… a premiação a gente dividia. Era uma família – emendou Robinho.
– O Cuiabá era uma família grande, nos emocionávamos juntos, sofríamos juntos, éramos felizes juntos. Eu sou muito grato por tudo aquilo que vivemos. Foi uma união muito grande – relatou Oscar Conrado.

Liderança da chave, horário atípico e parte física
Logo na estreia do Mato-grossense 2003, o Dourado perdeu para o Sinop por 2 a 1, no Gigante do Norte, em jogo marcado pela estreia da equipe auriverde em competições profissionais. Apesar do revés, o time não se abateu e foi, jogo a jogo, somando os pontos necessários para a classificação.
Ao fim da primeira fase, o Cuiabá, predestinado como sempre, terminou na liderança com 21 pontos. A classificação para a fase seguinte estava mais que garantida.
– Começamos para fazer uma boa campanha, sabíamos que nosso time era bom e com qualidade técnica. A gente foi ganhando e ganhando, quando classificamos em primeiro lugar na primeira fase vimos que dava para chegar mais longe. O time estava encaixado e bem fisicamente – afirmou Robinho.
– Tínhamos uma confiança grande porque formamos um grupo jovem, não tinha medalhão, o Oscar Contado era ex-atleta e sabia bem como lidar com tudo aquilo. Foi uma receita de sucesso – complementou Neto.

Um dos diferenciais do Dourado foi, além da qualidade técnica, a parte física. Segundo o ex-meia Robinho, o clube costumava treinar e jogar no mesmo horário, mas em turno diferente do habitual.
– O primordial para ser campeão era a parte física, treinávamos muito com o Oscar Conrado. Começava às 8h e parava quase 11h. O nosso time não era o melhor tecnicamente, mas fisicamente sobrava. Tinha muitos times a nossa frente na parte financeira e técnica. Mas a gente treinava demais. E usamos isso como principal fator, colocava o jogo no antigo Verdão às 10h. Era muito quente, mas estávamos acostumados – afirmou o ex-camisa 10.

Oscar Conrado e Neto Nepomuceno também ressaltaram que essa tática foi pensada e aprovada por todos.
– Eu falei com a diretoria que o diferencial seria treinar em horário diferente. Aí começamos a treinar 9h, com aquele sol quente. Aí estendíamos o horário até umas 11h, era o nosso reforço fora de campo. O time sensação era o União, então tivemos que trabalhar em cima do que tínhamos. E quando entrava em campo a gente atropelava. Sacamos isso rápido. Foi nosso diferencial. Aí ninguém mais parou a gente – relatou Conrado.

Jogadores e comissão em comemoração do Estadual de 2003

– Nosso time era jovem. A gente treinava às 10h e jogava às 10h. Então estávamos sempre em forma e os adversários acabavam cansando no segundo tempo. E sempre primamos pelo profissionalismo. Jogadores tinham horário para chegar, regras para cumprir. A gente entrava em concentração às vezes dois dias antes do jogo. O grupo era muito unido – afirmou Neto.
Com a vaga garantida nas quartas de final, o Dourado enfrentou o União de Rondonópolis, que na época era um time badalado e com dinheiro. Mas nada disso tirava a confiança do grupo, que se apegou em alguns detalhes extracampo para se motivar ainda mais em busca do título.

– Antes do campeonato começar, fizemos um amistoso contra o União e perdemos de 4 a 0, fora o baile. Mas depois, terminamos a primeira fase na liderança de um grupo e o União em quarto lugar do outro, então nos encontramos. O primeiro jogo foi em Rondonópolis e quando chegamos no hotel vimos a capa do jornal com provocações ao Cuiabá. Era algo como: “Se no amistoso foi quatro, imaginem quanto será agora?”. Pegamos esse jornal e colocamos no vestiário. Serviu de inspiração. Era questão de honra ganhar deles lá dentro. No fim, empatamos em 3 a 3 e levamos a vantagem para casa – disse Robinho.
Nos bastidores, o União ainda tentou atrapalhar a vida do Cuiabá. O então governador Blairo Maggi, torcedor declarado do Colorado, articulou e conseguiu. Mas em campo, a força e a valentia do Dourado predominaram.

– O jogo estava marcado para às 10h, como sempre, mas o Blairo Maggi mandou uma carta para a federação exigindo para colocar o jogo às 16h, ele era o governador né. Aí mudou. Mesmo assim ganhamos de 1 a 0 e garantimos a vaga para a semifinal. Depois daquele jogo, aí tivemos a certeza que o título era nosso. A confiança era grande – falou Robinho.
Na semifinal, o Dourado eliminou o Grêmio de Jaciara e enfrentou o Barra do Garças na decisão. Depois do empate em 1 a 1, fora de casa, o Dourado garantiu o título com a vitória por 3 a 2, no Verdão, com gols de Ronaldo Paulista, Clebinho e Maurício Canhão, naquele que seria o primeiro dos 10 títulos estaduais conquistados pelo clube auriverde.

– O Cuiabá já nasceu campeão. Sempre gosto de exaltar isso. Tudo que o Gaúcho fazia dava certo. Foi uma festa e uma alegria muito grande. Me lembro bem da emoção dele em levantar a taça, ver o sucesso tão rápido do clube. Ele ficou muito orgulhoso pois sabia que era um clube promissor, que ainda daria muitas alegrias – relembrou a viúva Inês Galvão.

 

A potência de Maurício Canhão

Falar do início do Cuiabá é lembrar do zagueiro-artilheiro Maurício Canhão, com seu potente chute que infernizava a vida dos goleiros adversários. Ao todo, foram 76 jogos e 14 gols marcados, segundo números levantados pelo pesquisador Sérgio Santos.
Foi dele, por exemplo, um dos gols na vitória sobre o Barra do Garças por 3 a 2, na decisão do Mato-grossense, em uma bomba de falta, especialidade de Canhão – daí, obviamente que veio o apelido.

Maurício Canhão, sempre decisivo em suas cobranças de faltas

O gol de falta não foi por acaso, mas antes vamos conhecer como foi a chegada de Maurício Canhão ao Cuiabá, com o Mato-grossense 2003 já em andamento. O responsável por isso foi o treinador Oscar Conrado.
– O time que eu comandava lá no Amazonas foi campeão e eu conversei com a diretoria para trazermos alguns jogadores, pois sabia da qualidade deles e tinha convicção que seriam importantes para nossa sequência no campeonato. Um deles era o Maurício Canhão que tinha esse diferencial do chute forte, potente, mas que também era um excelente zagueiro – disse Conrado.

– E eu queria que acabasse o campeonato logo no Amazonas, para a gente puxar ele. Tanto que no dia seguinte ao término do torneio lá, o Maurício já estava com o contrato aqui. Eles não foram nem pra casa, eram de São Paulo. Saíram de Manaus e já vieram para Cuiabá. Aí o Gerson Wellington (supervisor do clube na época e funcionário até hoje) conseguiu inscrever a tempo. Me lembro que chegaram em uma quarta e as inscrições encerraram na sexta. Não teve nem adaptação. Já coloquei no domingo e já jogaram.
Com o talento da força na perna, Maurício era conhecido por ser um homem calado, humilde, mas determinado em tudo que fazia, como conta o preparador físico do Cuiabá na época, Osvaldo Júnior.

– Era um cara que não tinha amigo nenhum. Um cara na dele, não conversava com ninguém. Mas treinava demais, era um cavalo para treinar. Ele tinha tanta confiança, a batida na bola dele era um tormento para todos. Mas ele se esforçava para isso. Por mais que tenha uma precisão, tem que treinar. Ele batia 50, 60 cobranças por treino. Tinha dias que tínhamos que segurar ele, para não cansar – contou Júnior.
– Mauricio ficava até tarde treinando, mas tinha muita qualidade. Com o grupo ele não abria a boca para nada. Nem em campo, jogava quieto. Não fazia mal para ninguém. Não fazia mal para uma formiga, tinha cum coração limpo e puro. Ele não conseguia falar, se expressar de tão humilde que era. Quando chegava um cara do sub-19, por chamava, e chamava a atenção dele, ele já abaixava a cabeça. Era a natureza dele. Mas sou muito grato a ele, foi muito importante, um cara muito humilde. Merece todo nosso respeito – completou Oscar Conrado.
Os gols de falta não demoraram a sair e sempre decisivos como nas quartas de final contra o União, em 2003, e claro, o da finalíssima diante do Barra do Garças no mesmo ano.

– Ele não conversava, era um cara isolado, mas ele sabia o que eu queria e ele sabia o que podia dar. Um zagueiro excelente, sabia se posicionar. Tinha um chute muito potente. Há muito tempo não vejo alguém bater na bola como ele. Era aquela porrada certeira, a bola fazia curva. Me lembrava batedores como tínhamos na época, estilo Éder Aleixo e Nelinho – analisou Conrado.
Osvaldo Júnior lembrou de uma história curiosa com a persistência de Canhão ao término dos treinamentos e, claro, por conta da força excessiva nos chutes.
– Terminava o treino e ninguém queria ficar na barreira. Imagina levar umas boladas daquelas. Aí o Gaúcho mandou fazer duas barreiras móveis, dessas de madeira. E ele quebrou as duas nos treinamentos. O Canhão tinha uma musculatura privilegiada.

A campanha do título
16 jogos
10 vitórias
3 empates
3 derrotas
33 gols marcados
21 gols sofridos
Artilheiro: Buiú, com nove gols

Time-base: Perereca; Filhão, Léo, Maurício Canhão e Paulinho; Tita, Robinho, Ronaldo Paulista (Santos) e Clebinho (Marinho); Valdemir e Buiú (Sandrinho). Técnico: Oscar Conrado.

 

O bicampeonato, Gaúcho parceiro e mais provocações
Passada a euforia do primeiro título, o Cuiabá tinha o desafio de manter a superioridade no ano seguinte, em 2004. A base do elenco foi a mesma, assim como a comissão técnica liderada pelo treinador Oscar Conrado.

Cuiabá bicampeão Mato-grossense em 2004, com o Luthero Lopes lotado, em Rondonópolis

Na primeira fase, o Dourado terminou na liderança do grupo A com 30 pontos, em um torneio fora do habitual, com regulamento que previa quatro fases para chegar aos finalistas. Na segunda, o clube foi o quarto colocado. Já na terceira, eliminou o Operário no mata-mata e fechou a quarta em segundo lugar, atrás apenas do União, que naquele ano havia recebido ainda mais investimentos em relação ao ano anterior.
Detalhe: nos dois jogos entre Cuiabá e União na quarta fase, o Colorado venceu as duas.
– Em 2004 viemos com mais maturidade, já éramos uns dos favoritos. Aí foi quando o União quis desbancar a gente e montou um grande time, despejou dinheiro, trouxeram jogadores de nome. Mas nós também trabalhamos forte. A campanha que o União fez parecia que seria o favorito. E nós íamos ganhando com vitórias mais apertadas, mas ganhamos a condição de ser finalista – afirmou Conrado.

Com os dois garantidos na final, a rivalidade àquela altura já era grande. Primeiro pelo Cuiabá ter eliminado o União em 2003. Segundo pelo Colorado nunca ter sido campeão em 30 anos de vida naquela ocasião.
– Eu lembro que tinha muita rivalidade dos outros times, principalmente o União. Teve um jogo que gritaram meu nome na arquibancada e não foi muito legal não. Ele me ligou e eu consegui ouvir os xingamentos. Mas a gente deu risada, ele estava habituado com isso, com essas provocações. Eu não costumava ir aos jogos, nem quando ele era jogador. Ficava em casa rezando, fazendo minhas mandingas – disse a viúva Inês Galvão.

Nos bastidores, o União agiu novamente e exigiu da federação a vinda de um árbitro que não fosse de Mato Grosso para o jogo da volta, em Rondonópolis, pois na justificativa deles o quadro estadual não estava à altura de uma decisão. A FMF acatou o pedido e convidou o ex-árbitro Paulo César de Oliveira, que na época era um dos principais do país.
– Eles indicaram o árbitro, estavam criticando muito a arbitragem local e trouxeram o Paulo César de Oliveira. Aí eles achavam que isso ia ajudar eles. E foi ao contrário, o Paulo foi muito justo, era um árbitro dos melhores do Brasil e ele não se intimidou com o estádio deles lotado – analisou Conrado.

Torcida do Cuiabá no estádio Verdão

No jogo de ida, os times empataram em 3 a 3 no antigo Verdão. A decisão ficou mesmo para o Luthero Lopes, em Rondonópolis, mas com o Cuiabá jogando pelo empate por ter feito a melhor campanha no geral. Assim como em 2003, o Dourado viu o adversário cantando vitória antes do tempo sem lembrar que futebol se resolve dentro de campo.
– A gente jogava pelo empate para garantir o bicampeonato. Chegamos no hotel e o povo de Rondonópolis, do União, fazendo carreata no sábado, comemorando o título. Eu corri no hotel e colocamos os jogadores no ônibus para eles verem a comemoração antecipada. Aí voltamos para o hotel, os jogadores se reuniram em uma sala para conversar e me lembro bem do que falaram: “Nós não vamos perder, eles não serão campeões, estão nos menosprezando. Nós seremos campeões”. Até me arrepio em contar isso – disse Neto Nepomuceno.

– A final foi no Luthero Lopes lotado, não cabia mais ninguém, foi o maior público pagante na época do campeonato. E eles montaram, antes do jogo, toda uma festa, com carreata, se consideravam campeões. Em Juscimeira deixaram dois carros eletrônicos, carro de som, encomendado, a cervejada, o chopp, estava tudo pronto, era só o time jogar e ganhar. Nós ficamos hospedados em Jaciara e isso vazou para nós. E usamos aquilo ali como motivação para nós, pois estavam comemorando. E nosso time tinha muita hombridade, e falamos que íamos buscar o bicampeonato – confirmou Conrado.
O 0 a 0 no placar garantiu a festa do Cuiabá e o bicampeonato no Luthero Lopes, tomado pela cor vermelha, mas que viu o verde e amarelo cantar mais alto. Foram cerca de 15 mil pagantes.

– O desespero do adversário era tão grande que um dirigente do União entrou em campo, tocou para o atacante deles e fizeram o gol. Mas o árbitro encerrou o jogo ali. O Ataliba (volante) recuou a bola para o Rocha (goleiro), e esse dirigente (Carlos Ferrari) trombou nele e tocou para o atacante fazer o gol. Não entendemos nada, mas o árbitro teve bom senso e encerrou o jogo ali, pois já estava nos acréscimos. O Luthero estava lotado, até fizeram uma festa bonita, mas quem fez a festa de verdade e saiu campeão foi o Cuiabá – relatou Robinho.
– O União tinha mais dinheiro, mas não tinha o que a gente tinha, que era mais amor, mais união, mais família – finalizou Conrado.
A conquista do bicampeonato teve um consenso entre os envolvidos: a parceria que Gaúcho tinha com o grupo. Isso fez com o que o elenco se fechasse ainda mais em prol do objetivo.

– O Gaúcho era um cara sensacional, ele viveu o futebol e sabia como tratar os jogadores. Ele falava que tinha sido atleta, sabia como era, que também gostava de pagode, de cerveja. Mas que tinha que saber o horário para fazer isso. A gente jogava domingo no estádio Verdão e ele falava que se a gente ganhasse os jogos, dois camarotes estariam liberados para os jogadores em uma casa de pagode (que ficava na Avenida Mato Grosso) com tudo pago. A gente entrava mais motivado. Um presidente falar isso. Ele viveu aquilo, sabia que o jogador gostava. Ele ganhava o time, os jogadores atuavam para ele. O Gaúcho foi um cara sensacional – completou o ex-camisa 10.

Pedrinhas do Verdão e grupo loiro
Todas as conquistas têm suas peculiaridades e curiosidades que marcam e deixam histórias para contar. O bicampeonato teve dois episódios que aquele grupo não esquece, contadas pelo ex-treinador Oscar Conrado. Ambas valem o registro.
O antigo estádio Verdão tinha uma pista de atletismo com piso de pedrinhas, daqueles que qualquer um que puxar na memória vai se lembrar, seja qual for a cidade que esteja lendo. Pois bem, aqueles pequenos “pedregulhos” serviam para acordar o time.

Jogadores com o cabelo loiro, ou descoloridos, na comemoração do título do Cuiabá

– Estava na área técnica do Verdão, e às vezes estava muito irritado em ver o time relaxando, segurando, deixando o adversário crescer. Aí eu gritava, ficava sem voz e via que a gritaria não estava dando certo. O Verdão na época tinha aquelas britas da pista e eu as pegava e jogava neles para eles acordarem. Aí eles viam que eu estava indignado de verdade e isso funcionava A minha intermediação eram as pedrinhas. Depois do jogo eles riam comigo e falavam: “Pô professor, ainda bem que você nos despertou com as pedrinhas”. Eles viam de uma maneira positiva, o grupo aceitava as coisas. A gente se dava muito bem. Eles me respeitavam muito e sabiam que era para o bem de todos – contou Oscar.

O segundo episódio que ele não esquece foi a promessa feita pelo elenco em caso de classificação para a final do Mato-grossense.
– Eles falaram que se chegasse na finam iam descolorir o cabelo, pintar de loiro, né. Aí até os mais caretas e tímidos do elenco, que não queriam, tiveram que descolorir o cabelo. E fomos campeões com todos loirinhos em campo. Foi divertido, serviu para descontrair.

 

Time consolidado e fator Drebor
Em 2003, a empresa Drebor já era parceira do Cuiabá com patrocínio para ajudar no crescimento da equipe. Com o título em 2003, o projeto avançou e, junto dele, vieram mais investimentos para manter o Dourado forte.
– A Drebor já fazia parte desse processo, foi muito importante a chegada deles, acreditaram na gente. E eles também são fanáticos, compraram a ideia do Cuiabá, não mediram esforços, eles foram fundamentais nisso também. Não foi só jogadores, diretoria e comissão técnica. A Drebor foi fundamental no processo, injetaram dinheiro, iam na sede, participavam do dia a dia. Nunca viraram as costas. Foi essa somatória de tudo isso que deu esse resultado. Foi muito legal – comemorou Oscar Conrado.

Drebor está ao lado do Cuiabá desde os primeiros anos da equipe mato-grossense

– No primeiro ano, o Gaúcho colocou muito dinheiro do bolso, mesmo com os pais ajudando. Tinham muitos pais de alunos que ajudavam no início do Cuiabá, eram grandes empresários e acreditavam no projeto, confiavam no Gaúcho. Isso foi fundamental. Eu até falo que o primeiro o título foi um susto. Não estávamos preparados para ser campeão e sim preparado para representar bem, o nome Cuiabá é forte. Aí veio a Drebor e começamos a melhorar a logística de treinamento, alimentação, fez um time mais competitivo – completou Osvaldo Júnior.
A viúva Inês Galvão fez coro à importância da Drebor na história do Cuiabá, o que perdura até os dias atuais.

– O Gaúcho investiu muita coisa, até que apareceu a Drebor, para equilibrar o financeiro e conseguiram contratar mais jogadores, dar uma condição melhor para os meninos. Melhorou os alojamentos. A entrada deles foi muito positiva, fundamental para a história do clube. O Manoel Dresch participava, eles iam atrás do time, torciam muito, com boas energias. Era um clima muito bom e familiar. E hoje a Drebor continua levando da mesma maneira. Com o mesmo empenho – disse Inês.
A família Dresch, dona da Drebor, esteve sempre presente na vida do Cuiabá. Desde 2003, ano do primeiro título, a família toda, em especial os irmãos Manoel, Aron e Neri (in memorian) adotaram o Dourado como time do coração, o que transcendia apenas um patrocínio a um clube.

– No primeiro ano, o Oscar trouxe os jogadores que se encaixavam dentro da realidade financeira. Eram jogadores do interior, locais. Aí no ano seguinte já conseguimos trazer atletas mais renomados. Às vezes, por exemplo, a gente viajava no mesmo dia para os jogos. Em 2004, já íamos um dia antes. O segundo título o clube estava mais organizado, com mais suporte. A gente fez as coisas organizadas dentro do nosso limite. Tenhamos uma organização boa e muito em função da Drebor. O diferencial foi a Drebor nos dar essa sustentação. O nível de preparação para o segundo ano, a logística de tudo no segundo ano, foi muito melhor – finalizou Júnior.

Nos próximos capítulos da série “Cuiabá 20 Anos”, saiba mais como a empresa comprou o clube desativado e recolocou no caminho das conquistas.

A campanha do bi
29 jogos
14 vitórias
10 empates
5 derrotas
49 gols marcados
29 gols sofridos

Time base: Rocha; Filhão (Everton), Léo, Maurício Canhão e Erivaldo; Ataliba, Giovani (Elias), Paulo Vinícius e Robinho; Ricardo Boiadeiro (Buiú) e Bibiu. Técnico: Oscar Conrado.

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