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Série “Cuiabá 20 Anos” – O Milagre do Pantanal

publicado em 21 de dezembro de 2021

Neste capítulo da série “Cuiabá 20 Anos”, vamos relembrar o memorável título da Copa Verde de 2015, quando o Dourado reverteu a goleada por 4 a 1 sofrida no Mangueirão, fez 5 a 1 no Remo na Arena Pantanal, no que ficou conhecido como “O Milagre do Pantanal”.

Impossível. Improvável. Difícil…

Ao fim do primeiro jogo da final da Copa Verde 2015, essas palavras rondaram a cabeça dos torcedores do Cuiabá. Afinal, o time havia perdido por 4 a 1 para o Remo, no Mangueirão, e iria precisar de um milagre para reverter o placar e conquistar o título inédito para a galeria do Dourado. Eis que “O Milagre do Pantanal” aconteceu. De forma épica, incontestável, com a legítima valentia do Dourado.

Abaixo, galeria com fotos dos jogos contra Estrela do Norte-ES e Luverdense

A semifinal da Copa Verde foi diante do Luverdense

A conquista da taça da Copa Verde pode ser considerada a mais emblemática na curta e vitoriosa história do Cuiabá. Foi o primeiro título nacional, o primeiro da história da Arena Pantanal e em um jogo considerado um dos mais marcantes dos 20 anos do clube pela superação e com uma virada eletrizante que deixou marcas eternas para jogadores, comissão técnica e torcida.

– Muitas pessoas ainda comentam sobre esse jogo quando me encontram. Foi uma das viradas mais impressionantes da história. E foi mesmo. O Milagre do Pantanal. O narrador da transmissão mesmo ficou emocionado, foi um dia mágico, épico, foi com muito trabalho e suor essa conquista. O Cuiabá merece – disse Fernando Marchiori, treinador daquele time.

O 4 a 1 na ida

Até chegar na decisão, o Cuiabá havia levado apenas dois gols em seis jogos na Copa Verde 2015. O time eliminou o Cene-MS, Estrela do Norte-ES e Luverdense até encontrar o Remo na grande final.

Abaixo, fotos dos jogos contra Estrela do Norte-ES e Luverdense!

Logo no começo da partida de ida, disputada no tradicional estádio Mangueirão, o Cuiabá sofreu um duro golpe com a expulsão do zagueiro Ricardo Braz, aos 20 minutos, que cometeu pênalti convertido por Rafael Paty. Apesar da inferioridade em campo, o Dourado ainda buscou o empate com Kaique, apenas dois minutos depois.

O primeiro tempo, porém, terminou em 3 a 1 para o time azulino que via ali nascer uma boa vantagem para o jogo da volta. No segundo tempo, o Dourado ainda sofreu mais um gol e viu o título que, a princípio, seria muito difícil conquistar.

– Chegamos do 4 a 1 e já tínhamos o primeiro jogo da final do Estadual, quando ganhamos por 1 a 0 do Operário. E foi uma logística complicada, pois saímos às 5h da manhã em Belém e chegamos 18h em Cuiabá. Tinha esse desafio para recuperar os jogadores. Mas tivemos essa vitória na final do Estadual, no meio das finais da Copa Verde, que também era o jogo de ida. Eles ganharam um fôlego, sabiam da importância de conquistar aquele título. De ficar marcado na história do clube – completou Fernando Marchiori.

Naquela altura, o Dourado tinha o desafio de ver a moral dos jogadores lá no alto novamente. A vitória na primeira partida da final do Mato-grossense foi fundamental para isso. Para que a confiança voltasse ao grupo.

– A gente sabia da importância dos dois campeonatos, estávamos em duas finais. Ficamos chateados com a derrota, não teve tanto tempo para treinar e lembro que antes do jogo decisivo contra o Remo foi feito um coletivo de 15 minutos apenas, o treinador deixou os jogadores bem à vontade, sem clima de derrota. Falou para jogarmos livres e para fazermos história – relembrou Raphael Luz, herói da decisão com três gols marcados.

Os jornais e a imprensa em geral do Pará davam o título como certo nos dias pré-final. Para conquistar a taça, o Dourado precisava de uma vitória por três ou mais gols de diferença. Não há como negar que o Remo era o favorito para levantar o troféu.

– Me marcou que após o jogo em Belém, teve um carro com torcedores do Remo e nos acompanharam até o hotel, entraram e falaram que queriam se hospedar ali e que seriam quatro quartos. Enfim, aquelas brincadeiras de torcedor. E alguns amigos de Belém nos mostraram toda a logística para receber o time na volta com a festa, caminhão do Corpo de Bombeiros, camisas prontas do título. Mas eles esqueceram que aqui tinham profissionais do outro lado. Que tinham que respeitar. Usamos isso, serviu de combustível para motivar o grupo – recordou Marchiori.

Brilho de Raphael Luz e preleção motivadora

“Foi de longe as melhores partidas que já fiz na vida. Cortei a cabeça em um dos primeiros lances do jogo, tomei um soco do goleiro. Fiz os gols, vomitei no campo, foi algo assim que aconteceu em um jogo que não acontece em uma temporada toda. No intervalo nem desci ao vestiário, foram três pontos na cabeça feitos na ambulância. O médico recomendou que eu não voltasse, mas falei que não tinha como, era uma final, eu queria muito estar ali. Foi um jogo emocionante demais. Está marcado na história do Cuiabá e na minha história”.

O iluminado Raphael Luz

Não tem como abrir esse tópico sem citar ou transcrever as declarações de Raphael Luz, o iluminado, no clichê da palavra. Com três gols marcados, cabeça estourada e expulsão no fim, Luz foi certamente o personagem principal da virada épica e incrível do Cuiabá.

Raphael Luz marcou seu nome na história do clube com a atuação destacada ao lado do grupo que ajudou o Dourado ser o primeiro campeão da Arena Pantanal.

– Era um jogo importante demais para nós. Tinha gente que não estava jogando de titular, como o Geovani, e arrebentou no jogo. O Diego também entrou pois o Ricardo Braz tinha sido expulso. Eles entraram tão motivados que subiram, elevaram nosso time a querer buscar aquele resultado. Foi uma semana que chegamos cabisbaixos, mas depois que começamos a treinar sabíamos que podíamos reverter o resultado – disse Luz.

Apesar da tensão com a obrigação de marcar ao menos três gols e sem sofrer nenhum, as histórias confirmam que o elenco estava preparado e com a cabeça boa para ir atrás do objetivo.

– No penúltimo treino eu tive uma conversa com eles para uma mudança tática. E naquele treino encaixou. Tanto que parei o treino. Aí motivamos eles, mostramos que tinha uma euforia do outro lado. Tinha que tirar deles a situação da diferença de gols. Eles tinham que jogar soltos, leves. Vai sair naturalmente. Deus abençoou a capacidade deles – relembrou Marchiori.

– Foi um dia muito atípico. Lembro que quando saímos para ir ao estádio e todos naquele clima sem pressão, mesmo perdido de 4 a 1 no Pará. Estava um clima gostoso no ônibus. Uma coisa que marcou no vestiário, foi quando o Marchiori falou com a gente. E ele sempre foi muito sério e convicto naquilo que ele acreditava, na formação do 4-1-4-1. E nesse dia ele falou que não ia cobrar ninguém de posicionamento, jogada, nada. Ele queria só ver a vontade e garra e para jogar como se estivesse jogando um rachão. Com isso, tirou um peso das nossas costas, aquela pressão de reverter o placar. Ele quis tirar esse peso para jogar tranquilo. Jogar com alegria e responsabilidade – afirmou o goleiro reserva André, que acabou sendo importante na decisão mesmo sem entrar em campo.

Uma das cenas marcantes antes do time subir as escadarias da Arena Pantanal foi a preleção tanto do treinador Fernando Marchiori quanto do goleiro André, reserva de Willian Alves. As imagens viralizaram nas redes sociais.

– Aquele momento foi muito especial. Na noite anterior, concentrado no CT do Dourado, eu estava deitado na cama e ficava pensando que como eu não estava jogando e não estaria em campo para ajudar eu tinha que fazer algo. Tinha que contribuir para alguma coisa. E eu ficava me cobrando isso. Tinha que dar mais. Era jogo que todos precisavam dar mais, mesmo quem estava no banco. Então foi Deus mesmo que me abençoou com as palavras. Na noite mesmo eu comecei a pensar no que falar, conhecia o grupo, a família do grupo. E naquele momento eu consegui passar para a equipe tudo aquilo que somos, o que a gente busca, o porquê estamos ali, por conta de quem estamos ali. Procurei tocar no coração de cada um e nada mais do que a família né. No fim deu tudo certo e conseguimos essa virada e ser campeão – disse André.

A goleada e o título inédito

O time entrou em campo determinado, com garra e disposição desde o início. Mais que reverter o placar e dar o título ao Dourado, o grupo sabia que precisava mostrar que era capaz de, ao menos, vencer o Remo.

O primeiro gol saiu aos 24 minutos, com Raphael Luz, de pênalti. No final do primeiro tempo, a bola sobrou, novamente para Raphael Luz, que marcou o segundo gol. E, antes do intervalo, teve tempo para o terceiro gol auriverde. Geovani cobrou falta, a bola desviou no zagueiro Dadá e entrou: 3 a 0 Cuiabá.

– Foi um dos jogos mais marcantes da minha carreira. Reverter uma situação como aquela, é muita coisa. É muito difícil e raro de acontecer. O Remo era o favorito – disse Marchiori.

Na volta do intervalo, o Cuiabá continuou atacando. O zagueiro do Remo derrubou Raphael Luz e o árbitro marcou o pênalti. O camisa 10 foi para a cobrança e marcou o quarto gol do time da casa. O resultado dava o título para o Cuiabá.

– Eu bati alguns pênaltis durante o Estadual e Copa Verde, mas eu não era o cobrador oficial. Era o Nino Guerreiro (atacante). Mas eu estava disputando a artilharia, então o Nino me cedeu a bola no primeiro pênalti. Eu era o camisa 10 e tinha que assumir essa responsabilidade. Converti o primeiro. Aí no segundo, o Nino pediu, mas eu estava confiante e bati e marquei mais um gol. Era uma decisão e fui muito feliz nas cobranças e pudemos comemorar aquela excelente virada que conquistamos. Representa o maior título da minha carreira – relatou Raphael Luz.

Após sofrer quatro gols, o Remo tentou reagir e assustou. Levy cruzou na área e Val Barreto cabeceou no canto direito: gol. Com o placar em 4 a 1, a equipe do Pará estava levando a decisão para os pênaltis. Para alívio da torcida do Dourado, Kaique deu passe de calcanhar para Felipe Blau, que passou para Nino Guerreiro dar números finais à partida: 5 a 1, título garantido e vaga na Sul-Americana de 2016.

– Tínhamos um trabalho de alguns batedores nos pênaltis. O Nino pegou a bola para bater o segundo pênalti. E eu até falei para ser o Raphael bater. E teve o espírito de grupo ali, o Raphael Luz estava inspirado. O Nino reconheceu o momento do companheiro. Naquele grupo, a vaidade não entrava. E o Nino ainda foi coroado com o quinto gol, que querendo ou não representou o gol do título – completou Marchiori.

Com o apito final, a euforia tomou conta da Arena Pantanal que àquela altura tinha pouco mais de um ano de vida. Os mais de cinco mil torcedores vibraram muito e viram os jogadores ainda mais contentes dentro do gramado.

– A festa foi incrível. Todo mundo chorando, todo mundo feliz com a sensação de que o impossível se tornou possível. Que tínhamos deixado nosso nome da história do Cuiabá. Primeira conquista nacional do clube, e da forma que foi, ficamos para a história – comemorou André.

– Para o Cuiabá foi o reconhecimento de um clube sério, correto, organizado. E de dar um salto internacional no futebol. Um clube que naquele momento não tinha tanta expressão e conquistou a vaga para um cenário internacional. Para o Cuiabá foi uma situação maravilhosa e também para todo Mato Grosso que gosta de futebol – finalizou Marchiori.

Fernando Marchiori com o troféu da Copa Verde

O título da Copa Verde ficou Dourado em 2015! Com uma história linda de superação, raça e que ficou marcada para sempre na memória do clube. A Arena Pantanal viveu uma noite histórica naquele 07 de maio de 2015. O Cuiabá fez o que parecia impossível. O que parecia improvável. O que parecia perdido!

Dourado campeão da Copa Verde

CUIABÁ 5 X 1 REMO
Local: Arena Pantanal – Cuiabá (MT)
Data: 07/05/2015 – Horário: 21h30
Árbitro: Paulo Schleich Volllkopf (MS)
Assistentes: Bruno Raphael Pires (GO) e Eduardo Gonçalves da Cruz (MS)
Cartões amarelos: Kaíque, Raphael Luz e Willian Alves (CUI). Dadá, Felipe Macena, Ciro Sena e George Lucas (REM)
Cartões vermelhos: Raphael Luz (CUI), Max e Igor João (REM)
Gols: Raphael Luz 24/1T, Raphael Luz 34/1T, Dadá (contra) 41/1T, Raphael Luz 4/2T, Val Barreto (Remo) 28/2T e Nino Guerreiro 35/2T.

CUIABÁ: Willian Alves; Gean, Diego Macedo, Egon e Maninho; Bogé, Felipe Blau, Kaíque (Murilo Ceará) e Raphael Luz; Nino Guerreiro (Bruno Silva) e Giovani (Grafite). Técnico: Fernando Marchiori.

REMO: Fabiano; Levy, Max, Igor João e Alex Ruan; Dadá, Ameixa (Val Barreto), Ratinho (Sílvio) e Eduardo Ramos; Bismarck (Felipe Macena) e Rafael Paty. Técnico: Cacaio.

Confira abaixo uma galeria completa com fotos do jogo e da comemoração do Cuiabá!

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